Prólogo - Família, Dever e Honra
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Prólogo - Família, Dever e Honra
Prólogo - Família, Dever e Honra
Cassandra Tully
Os estandartes estavam agitados com o vento naquele dia, não me lembrava que poderia ventar tanto em Correrrio como notei o balançar das bandeiras enquanto atravessava em um pequeno barco para entrada do castelo. O cheiro de terra molhada era empurrado pela forte brisa para minhas narinas. Não sentia apenas esse cheiro, como também o cheiro de morte, cheiro o qual eu conhecia muito bem, pois era cercada por este todos os dias em que lutei pela minha vida em Essos, principalmente em Braavos.
Um vestido digno de uma Lady Tully escondia meu corpo marcado por cicatrizes de batalhas travadas em terras estrangeiras. Um vestido o qual eu não me imaginava mais vestir desde o meu exílio ordenado pelo meu pai, o Lorde Edmure Tully, que me acusou de estar planejando sua morte junto a Casa Bracken, usou testemunhas que eu nunca havia visto, provas de cartas que eu nunca havia escrito. Senti-me traída pelo o meu próprio pai. Ele que não aceitava como filha, acusava minha mãe de traição por causa dos meus cabelos castanhos, mesmo que eu carregasse os olhos azuis que os dele, ele dizia que se tivesse que escolher entre mim e minha prima Olya, iria dar a chance a ela governar, pois ela parecia uma legítima Tully, o que eu não era para ele.
O Lorde Edmure Tully não se irritava apenas com a cor de meus cabelos, como também, o meu comportamento influenciado pelo lado da família da minha mãe, o Norte. Há quem tivesse os lábios amaldiçoados que sopravam ao meu pai como eu era muito mais uma “loba” do que uma “truta”. Minha mãe, Lysa Stark, era o meu “Norte” nas Terras Fluviais, uma mulher forte que me ensinou e me influenciou sobre o que era ser uma Stark. Tinha orgulho de onde havia nascido. Apesar de amar meu pai, pois como poucos casais, eles se apaixonaram após o acordo entre as famílias, ela sentia saudades do Norte e sempre pedia ao meu pai para visitar os familiares, quando meu pai concordava, ela nos levava pela viagem até as terras protegidas pelo nosso tio, o Protetor do Norte, terras que hoje são comandadas pelo nosso primo Ethan Stark.
Ao subir os portões, deparei-me surpresa com um pátio com um número menor de pessoas para me receber; eu não esperava que toda a comitiva se ajoelhasse perante minha presença, mas achei que meus irmãos estariam presentes.
-Cassie! - Era um rapaz alto e ruivo.
Eu não reconheci, sabia que podia ser um familiar devido às características que me assombravam, porém não sabia quem era que me chamava por esse nome. Quando o rapaz se aproximou, reconheci mais alguns traços familiares; o sorriso simplório, o andar ereto e as pequenas marcas no rostos que eram provadas pelo sorriso. Era o meu primo Axel Tully.
-Venha comigo, acredito que não teremos tempo. - Disse ele sinalizando para que eu o seguisse. - Ele só pede para lhe ver, chama por você todos os dias...
-Deve estar delirando de febre. - Respondi o interrompendo em tom sereno.
-Sim, ele está, mas acredito que não seja esta a causa.
-Deve estar delirando de febre. - Respondi o interrompendo em tom sereno.
-Sim, ele está, mas acredito que não seja esta a causa.
Calei-me e continuei a segui-lo pelos corredores até chegar aos aposentos de meu pai. E encontrei meu pai, Lorde Edmure, magro, desidratado e fraco, com os lençóis molhados de suor e mijo e baldes cheios das refeições que não ficaram em seu estômago e foram colocados para fora em seus vômitos constantes. O cheiro de mijo e vômito pairavam sobre todo o ambiente. Ele estava horrível. E mesmo que a carta, que meu irmão mais velho havia escrito, a qual o mensageiro havia me entregado em Braavos fosse detalhada sobre o que nosso pai sofria em seus últimos dias vida - que já haviam durado algumas semanas e talvez um mês. Eu ainda me impressionei com o estado de sua saúde.
-Cassie chegou, meu pai. - Disse Edward, meu irmão me velho, futuro Lorde Tully e Protetor do Tridente.
Ele fez um sinal com a mão para que eu me aproximasse da cama, não hesitei, por mais que meu pai tivesse feito tudo o que ele havia feito, eu era melhor que ele, portanto, no momento em que ele me “perdoou” pelos crimes, eu o perdoei pelo real crime que havia cometido sobre a minha vida.
-Minha pequena Cassie… minha pequena lobinha. - Ele deu um riso fraco. - Está tão parecida com a sua mãe.
Sentei-me na cadeira ao lado da cama, onde Edward estava sentado, segurei a mão de meu pai e a beijei. Sua respiração era fraca e seus olhos lutavam para ficar abertos. Estava debilitado e cansado de lutar pela própria vida. Mas estava me esperando para isso.
-Minha filha, você me perdoa? - Perguntou ele quase cedendo a morte.
-Eu te amo, meu pai. - Respondi tentando me manter calma.
Sentei-me na cadeira ao lado da cama, onde Edward estava sentado, segurei a mão de meu pai e a beijei. Sua respiração era fraca e seus olhos lutavam para ficar abertos. Estava debilitado e cansado de lutar pela própria vida. Mas estava me esperando para isso.
-Minha filha, você me perdoa? - Perguntou ele quase cedendo a morte.
-Eu te amo, meu pai. - Respondi tentando me manter calma.
Ele sorriu, mesmo que com dificuldade, apertou minha mão com todo o restante da força e cansou de lutar com a morte, deixou que ela vencesse sem hesitar. Senti sua mão amolecer entrelaçada na minha, seus olhos fecharam para nunca mais serem abertos. O meister Deloy analisou e constatou, Lorde Edmure Tully estava morto.
Todos olharam para o meu irmão Edward que estava paralisado com toda a situação, mesmo que parado, transparecia a insegurança que sempre carregou antes mesmo de ter o fardo sobre as suas costas que era ser o filho herdeiro da Casa Tully.
Meu irmão mais novo, Elmor Tully, estava com os olhos marejados e rosto tão vermelho quanto os seus cabelos, soluçava baixo e saiu do quarto após beijar meu irmão no rosto e abraçá-lo. Fitei Axel na porta do quarto e sinalizei com os olhos para que ele retirasse Elmor que estava desequilibrado e pior, afetando Edward que era amedrontado pelo título que carregava.
-Meister, peça que pra levem o corpo, faremos o funeral antes do pôr-do-sol. - Comandou Edward. - E informe aos vassalos que eles têm um novo Protetor.
Após a mensagem dada, todos se retiraram do quarto, incluindo o falecido lorde, sobrando apenas eu e meu irmão Edward no recinto. Aproximei-me dele e disse:
-M’lorde...
-Obrigado por ter voltado, minha irmã. - Ele fez uma pausa. - Estava receoso sobre sua volta.
-Foi difícil abdicar o cargo de confiança que eu havia conseguido em Braavos. - Disse enquanto eu passava por ele próximo a porta. - Mas e você, meu irmão?! Consigo ver em seus olhos o quanto está aflito.
Ele não respondeu com palavras, mas assentiu com a cabeça.
-Entenda, meu irmão. - Fiz uma pausa segurando o seu rosto em minha mão. - Você será um líder que este povo precisa. E principalmente para que essa família. Não temas os homens, porque a luz soberana estará sobre estas terras.
-Família, dever e honra. - Disse ele ainda confuso.
-Família, dever e honra. - Repeti.
-Preciso ir. - Disse ele com as mãos sobre o meu rosto. - Após o funeral quero que ceie conosco. A partir de hoje, será tratada como a Lady Tully que você realmente é.
-Obrigado por ter voltado, minha irmã. - Ele fez uma pausa. - Estava receoso sobre sua volta.
-Foi difícil abdicar o cargo de confiança que eu havia conseguido em Braavos. - Disse enquanto eu passava por ele próximo a porta. - Mas e você, meu irmão?! Consigo ver em seus olhos o quanto está aflito.
Ele não respondeu com palavras, mas assentiu com a cabeça.
-Entenda, meu irmão. - Fiz uma pausa segurando o seu rosto em minha mão. - Você será um líder que este povo precisa. E principalmente para que essa família. Não temas os homens, porque a luz soberana estará sobre estas terras.
-Família, dever e honra. - Disse ele ainda confuso.
-Família, dever e honra. - Repeti.
-Preciso ir. - Disse ele com as mãos sobre o meu rosto. - Após o funeral quero que ceie conosco. A partir de hoje, será tratada como a Lady Tully que você realmente é.
O último funeral que havia presenciado eu não sabia nem ao menos quantos eram e os seus nomes, não houve ritual algum, apenas um amontoado de corpos que foram queimados formando um grande fogaréu. Ali, dentre aquela grande chama, o Senhor da Luz, R’hllor me deu a visão de uma truta queimando até virar pó, foi então que eu soube, antes mesmo da carta chegar em minhas mãos, que o meu pai estava para morrer.
O corpo foi colocado no barco, coberto pela bandeira de nossa casa, junto com a sua espada e escudo, e cercado folhagens secas. Elmor e Axel foram quem fizeram as honras e soltaram o pequeno barco para que ele partisse com o curso do rio.
Edward retirou a flecha de sua aljava e a banhou com fogo, olhou para a bandeira para saber a direção do vento e soltou a flecha que caíra certeira no barco, provocando uma grande chama sobre o rio.
Desta chama, surgiu um grande dragão o qual foi abatido e dentre suas entranhas e seu sangue ergueram-se outros dois dragões tão grandes quanto o primeiro e cada um seguiu para um lado, ao se olharem iniciaram uma briga, uma batalha nos céus que parecia não ter mais fim, até que um caiu e este foi consumido pelo o fogo.
-Lady Tully. - Era a voz de Axel próximo ao meu ouvido. - Está tudo bem?
-Sim. - Respondi ao sair do transe. - Está sim.
-Sim. - Respondi ao sair do transe. - Está sim.
- Spoiler:
Cassandra Tully- Senhor de Correrrios e do Tridente
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Re: Prólogo - Família, Dever e Honra
Edward Tully
Foram dias intensos no castelo de Correrrio. Gritos. Sofrimento. Sandices. Delírios. Mesmo me sentindo culpado por tal sentimento, muitas vezes desejei que meu pai morresse antes da chegada de Cassandra. Não por qualquer sentimento ruim que tivesse em nosso relacionamento, seja meu com Cassie ou com o meu pai. Mas porque eu não estava mais suportando todo o fardo de cuidar de Correrrio e cuidar do meu pai. Os últimos meses foram tão difíceis que eu desejava que tudo acabasse o mais rápido para que ele pudesse descansar e eu pudesse tomar minhas decisões de verdade. Orei até mesmo para O Estranho.
Fui criado para ser o futuro Lorde Tully, porém, no momento em que vi meu pai perder sua última batalha, senti-me pela primeira vez inseguro quanto a liderança sob as Terras Fluviais. Antes eu lidava apenas com os servos, moradores ou aldeões; mas com a morte do meu pai eu lidaria com os outros Lordes de todos os cantos de Westeros e com o Rei.
Fitei minha irmã e percebi o quanto estava mudada, invejei a sua segurança e compaixão com os últimos momentos de meu pai. Não saberia lidar se fosse comigo, talvez, eu não teria aparecido para vê-lo, quanto menos ter retornado para Correrrio. Desde o seu exílio, não conseguia enxergar meu pai da mesma maneira; a lembrança dela sendo arrastada aos prantos enquanto pedia perdão ecoava pelos corredores e parecia assombrar as noites mais agitadas, uma memória que vagueava por meus pensamentos de modo tão corriqueiro que os cinco anos da sua ausência pareciam apenas cinco meses.
Ao retirarem o corpo, o mau cheiro atenuou, parecia que meu pai já havia morrido por pelo menos quatro dias, não sabia se chorava de tristeza pela perda ou pelo meu nariz queimando pelo odor. Chorei então de tristeza por alguns segundos, deixei que meu coração tomasse conta do meu corpo de maneira que minha irmã percebesse ao olhar em meus olhos. Foi então, que a notei diferente, notei que se passaram cinco anos de distância e que ela não era mais a minha irmã, não a mesma irmã que foi puxada pelos cabelos e quase seminua por ter se recusado a sair do castelo. Ela havia se tornado uma mulher que eu não conhecia.
-Preciso ir. - Disse colocando minha mão sobre o rosto dela.
Segui pelo corredor ao encontro do meister Mercilys que me aguardava para o envio dos corvos aos vassalos pedindo que viessem jurar sua lealdade ao novo Lorde Tully e Protetor do Tridente, seria feita uma comemoração para um renovo das alianças firmas das Terras Fluviais.
-Mas, m’lord com todo respeito - Ele fez uma pausa. - Seu pai acabara de morrer.
-E já não vivemos de luto por ele todos esses meses em que esteve doente? - Questionei o meister. - Ficamos presos a este castelo e sendo controlados por ele mesmo acamado? - Continuei. - Eu amei meu pai. Mas não posso mais deixá-lo controlar esse castelo. Não do jeito que ele gostaria.
-E já não vivemos de luto por ele todos esses meses em que esteve doente? - Questionei o meister. - Ficamos presos a este castelo e sendo controlados por ele mesmo acamado? - Continuei. - Eu amei meu pai. Mas não posso mais deixá-lo controlar esse castelo. Não do jeito que ele gostaria.
Eu estava cansado e abatido, era nítido como eu deveria ter envelhecido mais dez anos que a minha idade, minha barba estava emaranhada, meus cabelos desgrenhados, enquanto meu irmão mais novo se metia a ser cavaleiro, eu estava liderando Correrrio e cuidando do meu pai. E ele parecia um bebê que havia se desgarrado do peito de uma mãe em prantos enquanto eu lançava a flecha para finalizar o ritual funerário.
Notei minha irmã paralisada analisando a grande chama que subira no barco que era levado pela correnteza, não a chamei, entreguei minhas armas ao meu escudeiro e segui com os familiares para cearmos.
Ao sentarmos nas mesas, pedi para que servissem um banquete, não era uma comemoração, mas queria que as pessoas não se deixassem levar pelo sentimento de luto. Este o qual eu estava cansado de sentir. Vivi em tantas lamúrias que eu sentia que a morte do meu pai não deveria ser estendida.
Não demorou muito para que os brindes em minha homenagem surgissem, sorriso e gargalhadas predominaram o ambiente. Apenas Elmor continuava cabisbaixo. Quanto Cassandra, ela aparentava estar entretida com a companhia de Axel, com sorrisos maliciosos, toques e sussurros. Ele provocava suas gargalhadas com graças e histórias que ele costumava aumentar e ela parecia fingir a acreditar.
-Precisa de algo, m’lord?! - Sugeriu a jovem que enchia o meu copo.
Seus olhos eram claros, cabelos castanhos escuros e escorridos, tinha uma boca bem desenhada e rosada. Era uma bela jovem. Apenas soltei um sorriso e a respondi:-Não deveria encher o copo de homem já bêbado. - Fiz uma pausa para beber um pouco. - Está vendo o Lorde Elmor? Ele não bebeu o bastante, talvez devesse encher o copo dele.
Ela sorriu novamente enquanto mexia em seus cabelos, mordeu os lábios ainda com olhos em mim, como se tivesse decidindo, então o fez. Seguiu em direção a Elmor para lhe encher o copo, não só de vinho, mas de seu prazer.
Com a bebida em minha cabeça, lembrei de Olya, do seu cheiro, da textura de seus cabelos, depois me lembrei Lisa, dos seus cabelos castanhos, da pele macia e quente. Cambaleando até meu quarto perguntei ao Deuses o porquê duas perdas da mesma maneira? Estaria amaldiçoado pelos Sete? Se estivesse, por quê?
Eles não me responderam. Pelo menos, não naquela noite.
- Spoiler:
- CORVOS FORAM ENVIADOS AS CASAS VASSALAS PARA JURAR LEALDADE AO NOVO LORDE TULLY
- Spoiler:
Cassandra Tully- Senhor de Correrrios e do Tridente
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