[ Garth Quaedar ] Capítulo I - Introdução. Apatia.

Ainda escutava os gritos dela ecoando em minha cabeça. Gritos de sofrimento. Gritos de dor. Grito pelo amor roubado. Pobre Trianna. Estavam todos reunidos na Praça de Malachor, próximo ao Grande Templo do Senhor da Luz, em Volantis. Eu estava preso, com minhas mãos atadas, e amordaçado, enquanto o arauto de Belicho Maegyr, um triarca poderoso, proferia a sentença. Enquanto eu seria condenado ao exílio, Trianna seria condenada à morte. Tentei relutar inutilmente, havíamos nascido um para o outro, porém, nem mesmo a riqueza, ou o status de minha casa, puderam subverter a sentença, lei é lei, dizia meu avô, Nigarro Quaedar, o Grande Triarca de Volantis, com as mão direita em meu ombro. Eu havia dormido e com a mulher de um nobre, e a engravidei. Porém, nossa história não havia começado por ali, já éramos amantes, antes mesmo dela ter sido prometida a Belicho Maegyr, contudo, por minha arrogância acreditei que poderia manter tudo “debaixo dos panos”. Falhei miseravelmente. A falha que custou a vida da única pessoa que amei. E nem ao menos deixaram eu saber o que havia acontecido com o bebê. Assim que a espada do executor transpassou em seu pescoço, dividindo cabeça e seu corpo, tudo perdeu o sentido. Nada mais importava. Todas as riquezas, estudos sobre economia, finanças e filosofia, perderam o sentido assim que escorreu o sangue carmesim de seu corpo - despertei escapando de meus devaneios mentais.

Estávamos no entardecer em Vilavelha. Mesmo depois de onze anos vivendo em Westeros, não havia me acostumado totalmente ao lugar. Ainda me sentia um estranho. Era grato por ter sido bem recebido por minha tia Lyssa Hightower e meus primos, Jasper tornou-se um irmão para mim, Margaery era uma espécie de irmã mais nova. Em minha nova função Castelão, deveria trabalhar como o Alto Administrador de Vilavelha, um cargo importante quando se entende o que Vilavelha e os Hightower significam para Campina e para Westeros.

Estava cavalgando pela cidade em direção ao Porto. Acompanhando-me estavam Sor Jonothor Mullendore, Chefe da Guarda de Vilavelha, e um grupamento com cerca de vinte soldados. A cidade estava cheia, Vilavelha era a segunda maior cidade de Westeros, comerciantes, camponeses, meistres, nobres, todos os tipos de pessoas passavam por aqui, todos os dias.

... Temos um Lannister em Vilavelha… - disse Sor Jonothor puxando assunto.

Lorde Lyman, certo? - respondi - Ele está na Cidadela. Sua chegada havia sido anunciada.

Um rapaz problemático. Possui bastante apetite sexual. - reprovou Sor Jonothor.

Sor Jonothor era um dos homens mais experientes de Vilavelha, havia participado de inúmeras incursões militares, contra piratas e nascidos de ferro. Odiava e reprovava todo tipo de depravação. Era um homem robusto e contido, seus olhos castanhos e cabelos negros bagunçados, disfarçava um dos homens mais violentos de Vilavelha, porém era eficiente.

Fique de olho em Lorde Lyman. - avisei - Lorde Lionel Lannister ficaria muito aborrecido caso algo aconteça com seu irmão mais novo. Não podemos esquecer que eles são uma Grande Casa.  

Sor Jonothor assentiu gentilmente. Estávamos nos aproximando do Porto, de longe, avistávamos a Cidadela, era linda, imponente, uma das maravilhas de Westeros - minha opinião.

Em tese, somos uma das casas mais ricas de Westeros - comentei com Jonothor. - Temos a Cidadela, o Septo Estrelado e Torralta, um excelente fluxo mercantil. Temos um exército considerável, e somos ricos. Não entendo o motivo da pressa de Jasper em ir para Porto Real.

Nem tudo é tão simples. Lorde Hightower acredita que temos potencial para sermos muito mais que meros vassalos de Lorde Tyrell. - disse Jonothor enquanto cavalgava - Ele acredita que poderá pleitear uma vaga de prestígio no Conselho de Westeros, fazer bons casamentos e enriquecer ainda mais nossos cofres.

Tio Lewis, pai de Jasper, sempre dizia que éramos leais e honráveis em nossos compromissos. Principalmente em relação a nossos suseranos… - disse - Lorde Jasper não quebraria esse compromissos.

Lorde Jasper é honrado, e tem seus princípios, e sem contar que certo carinho por Magnus Tyrell. - disse Jonothor - Mas Magnus não é tolo de confiar totalmente em Jasper. Ele sabe quão grande é a história da Casa Hightower e seu peso na Campina.

Após isso houve silêncio. Por alguns minutos. Havíamos chegado ao Porto. Nos esperando estava Arquimeistre Humphrey e Lady Lyssa Hightower. Descemos de nossos cavalos e caminhamos até eles.

Sor Thomas Hightower partiu em uma incursão pela Ilha dos Escudos pela manhã. - contou Arquimeistre coçando a barba - … Levou consigo, Garlan e Nicolas Hightower, para que aprendam a não causar mais problemas.

Excelente decisão. - comemorou Sor Jonothor.

E os preparativos para a viagem de Lorde Jasper? - perguntei.

Lorde Hightower insiste em ir de navio. Levará seus guardas-pessoais e alguns soldados, Runnel Hightower irá acompanhá-lo. - contou Humphrey.

Jasper acha importante que seu tio Runnel Hightower vá, pois tem esperanças de encontrar Sor Willas Hightower, guarda-real. - explicou Lyssa - e Runnel ficaria honrado em ver seu irmão mais novo. Não é todo dia que vamos até a Capital do Reino.

Lorde Tyrell enviou um corvo anunciando a morte do rei. Porém atrasado. As vezes imagino que ele esqueça onde vivem os meistres de Westeros. - disse Humphrey e todos gargalharam.

Você ficará no comando, Garth - disse minha tia - Na ausência de Jasper, decidimos que você será a Voz de Vilavelha. E tem algo que devo conversar contigo depois, é sobre seu filho. Conversamos depois.