Cartas Voando

Urisk tinha acabado de acordar. O céu ainda estava escuro, mas o breu da madrugada ficará para trás. O quarto que receberá em Pyke seria considerado inadequado para um herdeiro de uma grande Casa em qualquer outro lugar, menos em Pyke, Pyke era um lugar rústico onde o luxo significava pouco. O quarto, que ficava em uma das torres, contava apenas com uma cama de penas, dois baús, ganchos onde armas, capas ou armaduras podiam ser prendidas, um balde de água do mar que era reenchido todos os dias pelos servos e duas portas de madeira grossa com trancas de ferro, uma das portas levava para dentro da torre e a outra dava em uma das pontes que ligavam toda Pyke.

O recém-proclamado herdeiro mergulhou a cabeça no balde da água, usou os dedos para soltar o cabelo endurecido pelo sal. Estava sem camisa, apenas com calças de linho simples, o tempo no mar tinha bronzeado sua pele.

Ouviu uma série de batidas na porta de madeira grossa que dava para a torre. Um dos poucos ”luxos” em Pyke era pequenos buracos ao lado da porta dos melhores quartos, eles podiam ser fechados por dentro e caso estivessem abertos davam um ângulo perfeito para enfiar uma lança em quem estivesse do outro lado, Urisk olhou por um deles para ver quem o incomodava logo no inicio do dia.

Era um soldado de Pyke, um homem alto e musculoso com o rosto cheio de rugas e marcas causadas pela exposição ao sol em um barco, era velho demais para ser um mero soldado raso, mas não velho o suficiente para ser um alto oficial ou se aposentar, vestia uma armadura oficial com a lula gigante no peito. Ele batia na porta em golpes rápidos com intervalos demorados e estava aflito, o que era estranho para alguém que já deveria ter experiência em um local como Pyke em que formalidades não tinham tanta importância.
Urisk soltou as trancas da porta e puxou-a. O soldado, nervoso, começou imediatamente a falar.

Soldado: Espero não telo acordado senhor, mas são assuntos urgentes. Harmond vos convoca para comparecer imediatamente nos salões principais do castelo.
Os vários anos de marinheiro de Urisk o haviam ensinado a obedecer a ordens e saber diferenciar meros pedidos de ordens estritas e da urgência que elas traziam. Era uma diferença de entonação e intenção que impregnava os homens do mar, era a diferença entre um barril estar no lugar errado e atrasar em alguns minutos um descarregamento e o afundamento do barco nas pedras ou nas mãos de piratas.

Urisk: Vá avisar a Harmond que estou indo. - Respondeu rapidamente. –Vou estar pronto rapidamente. Pode me informar da situação.

O guarda engoliu em seco.

Soldado: Apenas uma carta senhor. Uma carta que chegou durante a noite. Meistre Helgan acordou prontamente nosso Senhor e este mandou-nos convoca-los logo após lê-la.

“Mau sinal” pensou Urisk “Para causar um impacto desse com tamanha urgência esse corvo só pode trazer palavras negras.” O soldado virou-se para voltar aos salões principais e informar Lorde Greyjoy que sua tarefa fora completa. Urisk abriu seus baús e retirou sem grandes distinções uma camisa cinza, uma bota de couro cozido e vestiu-as. Tirou dos ganchos uma espada curta de aço protegida por tiras de couro para diminuir a ferrugem, uma bainha e armou-se. Não tinha o menor motivo para armar-se, mas era um dos poucos rituais que Pyke fazia questão de honrar.

Os corredores de Pyke ainda estavam vazios, ouviam-se apenas as ondas batendo nas pedras a distância e o trabalho dos poucos servos que já estavam de pé. No meio do caminho Urisk deparou-se com um pequeno grupo de soldados escoltando um homem. Aqueles soldados vestiam mais que uma armadura oficial, mas possuíam uma capa cinza e um broche brilhante que os identificava como a guarda avançada do castelo. Quem os liderava era Kerold Greyjoy, o irmão mais novo de Harmond que vivia como um leal serviçal e prisioneiro de seu lorde. Kerold era um homem cansado e que aparentava ser muito mais velho que sua idade real, que não batia as 40 luas, os cabelos negros eram salpicados de branco e caiam para trás, os olhos azuis carregavam grandes olheiras e o rosto que outrora fora bonito era agora magro demais, ele andava lentamente e retorcia o rosto sempre que pisava com a perna esquerda. Vestia-se totalmente de preto.

Urisk conhecerá seu tio Kerold anos antes enquanto acompanhava Erik para um trabalho. Kerold controlava os portos de Grande Pyke e a guarda do castelo e era bastante obstinado em seu trabalho, quando Erik quis usar seu nome para agilizar seu trabalho Kerold brigará com ele, mas no final ele ajudou-os.

Kerold: Então também foi convocado Urisk. –Comentou- Então não é um problema em Pyke ou nos portos, se fosse Harmond teria apenas jogado sobre minhas costas. Esperava que fosse um desentendimento das docas, alguma guarnição incendiada ou um navio naufragado, são problemas, claro, mas eu poderia resolvê-los em alguns corvos e mexendo em alguns papéis.

Urisk estranhou o quanto Kerold falava. Desde que suas ambições foram suprimidas ele tomava muito cuidado em não demonstrar intenções ou discordâncias para com Harmond. “Outro mau sinal.”

Urisk: O que pensas que pode ser o conteúdo da tal carta?

Kerold: Sangue, palavras negras e sangue. Torcemos para ser apenas um crime menor e uma briga entre nossos vassalos, se quisermos ser mais realistas em nossos desejos torçamos para que seja uma briga de nossos vassalos com os vassalos de outra grande Casa. Se quisermos um olhar negro uma guerra entre grandes Casas já é bom o bastante.

Os dois Greyjoys chegaram até o salão principal de Pyke. Ele era protegido por uma grande porta de ferro, que nesse dia estava aberta esperando os convocados. Poucos guardas protegiam a sala e os que lá estavam eram os mais antigos e confiáveis homens do castelo. E mesmo assim ficavam apenas do lado de fora do salão. Eles cumprimentaram Kerold e Urisk e os deixaram entrar, mas não permitiram o mesmo ao resto dos homens que os acompanhavam. Informação confidencial, diziam eles.

O salão de Pyke era decepcionante, as únicas coisas que o diferenciavam de uma taverna comum era a grande tapeçaria com a lula gigante presa na parede dos fundos e a grande cadeira que ficava na frente dessa tapeçaria, cadeira essa reservada ao Lorde de Pyke.

Harmond Greyjoy os esperava sentado na cadeira. Era um homem grande que acabara de chegar as 40 luas e parecia não sofrer por isso, tinha feições duras e estressadas, cabelos totalmente negros presos e uma barba que cobria apenas as laterais do rosto. Tinha olhos azuis acinzentados, um tom estranho e que ajudava a torna-lo mais assustador do que era. Vestia-se com roupas elegantes e leves, com tons principais de azul e ornamentos com pedras. Ao seu lado estava o velho Meistre Helgan, baixo, careca e com a túnica e as correntes dos Meistres, trazia em sua mão a carta.

Não tinha ninguém na sala além de Helgan, Harmond, Kerold e Urisk.

Harmond: Chamei vocês aqui por um motivo serio e quero que vocês ajam com a seriedade que o momento pede. Não quero que a notícia que darei se espalhe, ela chegará ao povo das lhas de Ferro em seu tempo, o que não será muito depois de nós mesmos sabermos. Rei Jaehaerys está morto.

A notícia pegou Kerold e Urisk de surpresa, Helgan, que fora o primeira do castelo a saber da morte apertou o rosto ao ouvir mais uma vez a afirmação O Rei Morreu. “Eu me enganei” pensou Urisk “Esse é o maior dos maus sinais”.

Harmond: Um Grande Conselho foi convocado para decidir o novo Rei. Como uma das Grandes Casas nos fomos convidados a participar da escolha, e esse é o tipo de convite que não se pode recusar. Deveremos viajar para Porto Real o mais rápido que pudermos o que significa sairmos hoje. Kerold veja nos seus portos qual dos nossos barcos já está pronto para partir e tenha tamanho suficiente para nossa comitiva, preparei para que ele nos leve.

Kerold apenas assinalou com a cabeça.

Harmond: Você ficara com o controle de Pyke enquanto eu me ausentar. Urisk, você vira comigo como parte da comitiva. Sei da competência da tripulação do Mary Ann e de sua velocidade e quero-os a meu serviço. Agora agilizem, quero ambos aqui de novo durante o banquete com os preparativos prontos. Se tudo der certo partiremos hoje ou amanhã.

E todos deixaram a sala de rostos fechados e pensamentos sombrios. Todos menos Harmond, que tinha um pequeno sorriso em rosto enquanto voltava para seus aposentos acompanhado por seu Meistre.

Harmond: Você também ficara aqui Helgan, quero alguém para manter minhas ordens andando que não seja Kerold. E quero que mande uma mensagem para Lorde Redwyne aceitando seus principais termos, diga que quero firmar nossa aliança e provar minha boa vontade frente aos problemas que estão por vir.